sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Autoria - Quem sou?



Salve caríssimos!



Escrever para um ambiente web não é exatamente uma novidade para mim. Mas num blog é a primeira vez. Em outras ocasiões, em outros sites, já pude participar de entrevistas, colunas etc. Porém, vou desenvolver melhor esta habilidade a partir de agora, juntamente com vocês.


Acho que será bom fazer uma apresentação mais detalhada a respeito deste autor que vos escreve. Bom... pra começar, sou nascido em Porto Alegre/RS, tenho 37 anos completados em dezembro passado (2008), sou ator, e curso Ciências Sociais com ênfase em Antropologia Social, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH/UFRGS).


Meu interesse pelo assunto (a homocultura, ou cultura queer) começou num trabalho de pesquisa para uma disciplina de antropologia da faculdade. Mais especificamente com um trabalho de campo na Parada Gay de Porto Alegre, onde deveria pesquisar o caráter político do evento. Parecia uma festa! O universo de identidades ali presente era (e é) tão grande e diverso que fascinaria qualquer antropólogo. Um mundo colorido, alegre, rico em códigos e condutas das mais variadas, quebrando tabus e preconceitos, enfim, mostrando todo o tal caráter político que eu procurava e que só uma Parada poderia ter. Só não vê quem não quer. E este caráter não está somente nas bandeiras empunhadas, nas palavras de ordem e repúdio à moral heteronormativa. Está justamente no caráter festivo: nos shows, nas transformistas, nas montadas, nas drag-queens, nas travestis e seus corpos à mostra, nos gogo-boys e seus corpos à mostra, e sim, mais uma vez, nas bandeiras coloridas empunhadas. É esta afirmação da diferença, esta realização performática e ritualizada de um modus-vivendi diverso, porém alegre e festivo, que reside todo o caráter político da Parada do Orgulho Gay.


Fui percebendo, então, a verdadeira “sopa de letrinhas”, no dizer de Rechina Facchini, que um evento desses congrega. Contudo, infelizmente, as letrinhas desta sopa (os Gês, os eLes, os Bês e os Tês) parecem se congraçar apenas na comemoração do dia do Orgulho Gay. Ainda há muitos estranhamentos entre as diversas identidades homo e afins e que são perceptíveis em outras sociabilidades do universo homo. Obviamente, mais uma vez, um reflexo da sociedade heteronormativa em que vivemos. Afinal, é nela que somos criados e educados. E mesmo convivendo no mundo gay há 21 anos, foi somente participando das paradas é que estes fatos se tornaram evidentes para mim, de uma forma mais clara. Talvez o olhar antropológico, quando devemos “estranhar o familiar” tenha se aguçado nesse momento e superado a reles curiosidade.


Assim, para entender melhor esses estranhamentos, que passei a me aprofundar no tema e tentar dar minha modesta contribuição à quebra de certos preconceitos, dentro e fora de nosso mundinho. Aliás, será que os gays ainda vivem em mundinhos, dentre muros, em “guetos”? E foi estudando antropologia, me cercando das teorias da performance e de rituais, estudos do corpo e suas representações e também das sexualidades (sim, no plural!), assim como, lendo muito sobre gênero e identidade, que agora me sinto mais confiante para tratar da questão.


Portanto, minha intenção inicial é exatamente esta: escrever sobre acontecimentos e personalidades deste universo tão rico que as novas gerações, mesmo sendo criadas com toda a atual tecnologia a seu dispor e o mundo todo na ponta dos dedos e num clique do mouse, ainda não têm um acesso qualificado e nem um conhecimento discernido. Ainda. Afinal, só encontram uma série de informações desencontradas, entrecortadas, parciais, pela metade.


Ainda pareço pretensioso? (risos novamente)


Enfim... o pontapé inicial da discussão está dado. Na próxima postagem vem mais coisa por aí... um desenvolvimento maior da discussão. Deixem seus comentários! Vamos lá, vamos acirrar e esquentar o diálogo. Estou aberto a críticas e sugestões. Um forte abraço e até a próxima!

sábado, 17 de janeiro de 2009

ABERTURA - Sejam Bem Vindos!




Salve caríssimos!



Bem Vindos ao “memorabilia gay”!!!
Um blog que visa fazer um resgate da história da arte do transformismo por meio do registro das biografias pessoais e profissionais dos artistas e de personalidades do mundo LGBT de Porto Alegre no Rio Grande do Sul de maneira particular e também do Brasil de forma mais geral, assim como tentar trazer um pouco de informações e acontecimentos da chamada homocultura (ou cultura queer, como preferirem!).
A idéia deste blog (que não é exatamente um blog pessoal, do tipo diário) é que ele tenha uma “cara” mais profissional, algo como um pré-site, na intenção de desenvolver, aos poucos, esse projeto de resgate e conservação da história e da memória da arte transformista.
Me dei conta dessa necessidade, ao ser convidado a desenvolver uma coluna no antigo site Angel Loiro, de propriedade de um grande amigo meu, Lucas Vieira. Essa coluna trataria das biografias e memórias de grandes personalidades do universo gay, fossem elas artistas ou militantes do movimento. Aconteceu que, ao pesquisar minha primeira biografia, a de Erick Barreto, grande ator-transformista pernambucano que residiu no Rio de Janeiro, percebi que nada de sua vida existia na rede. A não ser uns poucos vídeos seus postados no YouTube, de antigos programas do SBT. Aqueles de concursos de dublagem apresentados por Sílvio Santos e que foram febre nos anos 80 e 90 e que parecem estar voltando à telinha, mas não com o mesmo entusiasmo e glamour de antes.
Por isso, então, pensei na necessidade de criar um espaço, mesmo que ainda virtual, mas que sirva para propiciar esse resgate, registrar a memória homo e assim, tentar minimizar tanto o preconceito com a arte transformista, de maneira particular, que sempre foi considerada uma arte menor, como valorizar a homocultura de uma maneira geral.
Penso que a chamada arte transformista, sendo uma forma de cultura própria de um grupo (no caso, os gays), nos remetendo a suas simbologias, seus códigos, seus mitos, seu cosmos, precisa de mais valorização, de um reconhecimento por parte da sociedade em geral, e da própria comunidade gay em particular, dada sua importância não só como forma de expressão, arte e entretenimento, mas, principalmente porque serve de trabalho e sustento material a muitos artistas, movimentando um mercado de consumo e oferta de bens e serviços que extrapola os limites dos “guetos” homossexuais e “reverbera” na sociedade como um todo.
Bom... de início acho fundamental começarmos por alguns esclarecimentos, algumas explicações que se fazem muito necessárias, que passarei a dar nas próximas postagens. Como por exemplo, o que vem a ser exatamente o transformismo? É apenas um hábito? É uma arte? E essa tal arte transformista de onde vem? Qual sua história? São tantos os questionamentos a cerca do assunto, são tantas as confusões conceituais... até porque não há exatamente muita literatura a respeito, principalmente científica, para dar um pouco mais de confiança em textos que possam vir a definir o que é ser um transformista. E na internet... NOSSA! Quanta besteira se encontra a cerca da definição do transformismo em comentários, em pretensiosas webenciclopédias (sim, estou falando da tão venerada Wikipédia, que para mim não é nada confiável) e também em outros blogs por aí. Caros colegas blogueiros, mais cuidado no que postam. É muita confusão! Diria, até, maquiando certo preconceito. Afinal, desinformação sempre pode gerar preconceitos, não é mesmo?!
Agora vocês podem se perguntar: -"Se ainda não há literatura científica para estabelecer um embasamento conceitual a respeito, quem é este blogueiro para tratar do assunto e tentar explicar algo?" Simples! Em primeiro lugar, a confusão começou com a própria ciência e por isso não é ela a mais embasada para tratar do assunto, por isso trarei a voz dos próprios artistas (quem melhor para falar do assunto?). Em segundo lugar, sou ator, cientista social pesquisador do Movimento LGBT e da homocultura, assim como alguém que convive há 21 anos com artistas transformistas na noite de Porto Alegre e talvez o primeiro a começar a tratar do assunto como um todo na internet. Me corrijam se estiver errado!
Pretensioso eu? Imagina!!! (risos)
Comecemos juntos, então, esta viagem por mundos glamourosos, coloridos e purpurinados! E até a próxima postagem!