Salve
Caríssimos!!!
Bem, após a postagem anterior a respeito das possibilidades de ocorrência
de diferentes fenômenos de transgeneração em diversas culturas,
sociedades e épocas distintas, começo, agora, a publicar uma série
de textos com conceitos, em sua maioria antropológicos e filosòficos
acerca dos fatos e instituições que propiciaram o desenvolvimento
de vários fenômenos de transgeneração em nossa cultura, com o
foco final, é claro, no transformismo. Isso, ainda, antes de
entrarmos com as biografias dos artistas nacionais, do Brasil e aqui
de Porto Alegre/RS.
A
pesquisa que faço tem como foco fenômenos referentes à nossa
cultura. Mas qual cultura considero exatamente como nossa? Quando
falo em cultura não o faço somente tendo como referência a cultura
brasileira (ou as culturas brasileiras...). Mesmo porquê a cultura
de nosso país faz parte de um todo maior comungando muitos elementos
culturais com outros países e regiões do planeta por terem tido uma
origem comum. Assim, quando falo em nossa cultura me refiro à
Cultura Ocidental. E quando
falamos em Cultura Ocidental, geralmente a relacionamos a uma Europa
industrializada e nórdica. Entretanto, devemos estar atentos às
raízes e influências que esse continente recebeu da Ásia e da
Africa, através do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo e das
civilizações antigas ao seu redor e que muito influenciaram nossa
cultura. Entre tantas, cito a grega, a romana, a hebraica, a árabe,
etc. E entre estas influências, a que aqui nos interessa, é
exatamente a forma como essas civilizações antigas lidavam com as
questões de gênero e como nós, brasileiros, herdamos através dos
portugueses, seja pelo viés ibérico, seja pelo viés
judaico-cristão.
Para
começarmos a discutir essas questôes, podemos começar com dois
conceitos bem bàsicos: o de sexo e gênero!
Assim,
ao colocar conceitos sobre sexo, gênero e identidade, o farei tendo
por base como essas questões foram construídas e se constituindo
dentro da Civilização Ocidental de forma generalizada e na cultura
brasileira de uma forma mais particularizada. Como contraponto
tentarei trazer exemplos de outras sociedades, principalmente
coletivistas (ou holísticas), isto é, sociedades em que o todo
social, o coletivo impõe suas normas, aquelas em que o indivíduo só
se enxerga através da coletividade da qual ele faz parte. Geralmente
são sociedades tribais, simples (no sentido de sua estrutura
econômica).
Neste
texto abordarei as questões de sexo e tambèm de gênero e agora o
farei com maior esclarecimento do assunto, procurando demonstrar como
se elaborou e ainda se processa a definição, a apreensão e o
pertencimento de sexo em nossa sociedade: a Ocidental.
Porém, antes de falarmos de gênero, vamos primeiro esclarecer
alguns conceitos que o embasam: sexo, gênero, identidade, orientação
e comportamento sexual.
Sexo
(o atributo anatômico-biológico, não o ato) é um conjunto de
características anatômico-biológicas que são diferentes em homens
e mulheres e que os habilitam para a reprodução. Assim, temos
características primárias, que são o aparelho genital
conjuntamente com ovários e útero nas mulheres e testículos nos
homens e as secundárias, que são as hormonais. Por incrível que
pareça, a ideia de sexo como fator diferenciador é recente na
história da humanidade, datando do século XVII e XVIII. Este
pensamento surgiu a partir das descobertas científicas no campo da
medicina por meio dos estudos de anatomia através da dissecação de
cadáveres. Assim, o corpo de homens e mulheres começou a “ser
construído” até chegar aos dias de hoje mais ou menos como o
entendemos hoje. Acontece que, os cientistas lá da Revolução
Científica, não exatamente viram nisso novas descobertas. Pelo
contrário, seu “olhar científico, neutro e objetivo” vislumbrou
aquele corpo com um olhar carregado de uma cultura que colocava
homens e mulheres em posições diferentes, reforçando a milenar
relação assimétrica de poder entre os sexos.
A
forma como um determinado grupo humano entende o sexo faz parte dos
códigos e simbologias inscritas em sua cultura, em uma visão
coletiva e
própria
de mundo. E isto se aprende das gerações anteriores. O novo sempre
olhamos com um certo olhar do passado. Por isso, por maiores e
avançadas que tenham sido as mudanças ocorridas nas últimas
décadas, ainda jogamos sobre o outro um olhar carregado de códigos
ultrapassados
e arcaicos.
Na
pré-história, há milhares de anos atrás, (talvez atè hoje isso
persista culturalmente falando) o mundo se apresentava para os homens
carregado de simbologias
que eram acessadas por associações.
As diferenças entre homens e mulheres não eram percebidas somente
pela sua anatomia. A única diferença inquestionável era a
capacidade própria das mulheres de serem depositárias da vida já
que o homem era o portador dela através de seu sêmen. Por esta
característica, à mulher foram associadas uma série de
manifestações simbólicas da natureza, por exemplo, a fertilidade,
a umidade, a noite, o frio, as trevas, a obscuridade, o túmulo, a
casa, o privado. Como a apreensão do mundo se opera de forma binária
e relativa, ou seja, aos pares, comparativamente e por oposição, ao
homem foram imputadas características opostas: o seco, o dia, o
calor, o céu, a claridade, a rua, o público. Um
detalhe importante a ser acrescentando é que, como muitos
antropólogos acreditam, a mente humana opere binariamente, ou seja,
percebe e constrói conceitos aos pares antagônicos. Assim teríamos
masculino/feminino, certo/errado, bem/mal, bonito/feio, em cima/em
baixo, seco/úmido, entre tantos. E estes conceitos básicos são
indissociáveis, pois só conseguimos pensá-los em referência ao
outro. O belo só existe porque temos a ideia do feio em comparação.
Essas
simbologias eram perpetuadas por nossos ancestrais através de
mitologias, que eram estórias explicativas do mundo e que eram
revividas e vivificadas por meio de rituais. Assim, com o
desenvolvimento das primeiras civilizações, as diferenças foram se
acirrando, estabelecendo-se como “definitivas” e sendo
naturalizadas, isto é, tomadas como naturais. Por isso é que foi
reservado à mulher o espaço da casa, do privado e da família
enquanto ao homem cabia o domínio da rua, da política, dos
negócios. E em cima destas simbologias foram se operando as divisões
sociais entre homens e mulheres e foram se construindo e se
constituindo as diferenças de gênero.
Gênero
aqui entendido como a manifestação social pròpria das diferenças
comportamentais estabelecidas entre homens e mulheres de acordo com a
cultura em que estejam inseridos. Diferenças estas que ajudaram a
criar o mito da superioridade masculina sobre a mulher fazendo crer
que havia uma diferença de grau entre ambos. Portanto, foi se
estabelecendo uma relação assimétrica de poder entre homens e
mulheres, numa sociedade heteronormativa e androcêntrica. Ou seja,
onde as normas eram estabelecidas pelas e para as relações
heterossexuais com prevalência de poder e domínio do homem sobre a
mulher. Muito provavelmente a raiz do preconceito para com os
homossexuais masculinos está na ideia de que estes queriam ser como
mulheres, o que para um homem era inadmissível, sendo considerado um
rebaixamento, já que nesses tempos a percepção da diferença entre
homens e mulheres era de grau, não de natureza, isto é, a mulher
era tida como inferior ao homem.
Assim,
por consolidar a homens e mulheres uma série de características a
ele atribuídas, esperava-se de um e outro sexo/gênero, um
comportamento condizente com estas características socialmente
pré-estabelecidas. Ou seja, da mulher esperava-se uma certa
feminilidade, fragilidade, que fosse cordata e gentil, e do homem
esperava-se a masculinidade, a bravura, a coragem, que fosse
aguerrido e bravo. E com pequenas variações em suas manifestações
estes fenômenos foram perpetuando-se através dos séculos por meio
da educação das crianças e da forma como se impunha um
comportamento a elas por meio do uso de toda uma simbologia de
pertencimento de gênero. Então através de vestimentas, acessórios,
adornos, artefatos e brinquedos, cores, todos eles indicativos do
sexo ao qual pertencia a criança (ou se acreditava e queria que
pertencesse) e com o intuito de reforçar o pertencimento de gênero
da mesma em relação ao seu sexo. Isto se acirrou enormemente a
partir do século XIX quando a ideia de infância foi aperfeiçoada.
Qualquer alteração nessas características era vista com no mínimo
desconfiança até a total intolerância, variando conforme o lugar e
a época.
E
para transformar e mudar essa sèrie de configuraçâo de
caracterìsticas è mister que se almeje uma mudança naquilo que
esperamos e entendemos como mercado de trabalho para mèdicos,
afinal, ainda e somente são os mèdicos os profissionais elencados
como avaliadores do comportamento humano, visto o grande poder que a
ciência ganhou em nossa sociedade e antes de eles de tornarem
profissionais da medicina, eles sâo sim, seres humanos e como tais,
propensos a uma sèrie de conceitos e prè-conceitos culturalmente
arraigados e estabelecidos a-priori, pois ainda sâo os médicos, e
somente eles, os profissionais encarregados de julgar e avaliar o
comportamento humano, como se fossem juìzes doutores da lei suprema,
quase deuses;
Assim
precisiarìamos compreender e entender que o saber da ciência e da
medicina não è absoluto e que cabem certas relativizações e não
seria o ùnico saber do universo devendo-se aceitar as sabedorias
nâo tradicionais, como exemplo cito o saber indigena-americano!
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