quarta-feira, 17 de maio de 2017

Salve Caríssimos!!!


Bem,  após a postagem anterior a respeito das possibilidades de ocorrência de diferentes fenômenos de transgeneração em diversas culturas, sociedades e épocas distintas, começo, agora, a publicar uma série de textos com conceitos, em sua maioria antropológicos e filosòficos acerca dos fatos e instituições que propiciaram o desenvolvimento de vários fenômenos de transgeneração em nossa cultura, com o foco final, é claro, no transformismo. Isso, ainda, antes de entrarmos com as biografias dos artistas nacionais, do Brasil e aqui de Porto Alegre/RS.
A pesquisa que faço tem como foco fenômenos referentes à nossa cultura. Mas qual cultura considero exatamente como nossa? Quando falo em cultura não o faço somente tendo como referência a cultura brasileira (ou as culturas brasileiras...). Mesmo porquê a cultura de nosso país faz parte de um todo maior comungando muitos elementos culturais com outros países e regiões do planeta por terem tido uma origem comum. Assim, quando falo em nossa cultura me refiro à Cultura Ocidental. E quando falamos em Cultura Ocidental, geralmente a relacionamos a uma Europa industrializada e nórdica. Entretanto, devemos estar atentos às raízes e influências que esse continente recebeu da Ásia e da Africa, através do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo e das civilizações antigas ao seu redor e que muito influenciaram nossa cultura. Entre tantas, cito a grega, a romana, a hebraica, a árabe, etc. E entre estas influências, a que aqui nos interessa, é exatamente a forma como essas civilizações antigas lidavam com as questões de gênero e como nós, brasileiros, herdamos através dos portugueses, seja pelo viés ibérico, seja pelo viés judaico-cristão.
Para começarmos a discutir essas questôes, podemos começar com dois conceitos bem bàsicos: o de sexo e gênero!
Assim, ao colocar conceitos sobre sexo, gênero e identidade, o farei tendo por base como essas questões foram construídas e se constituindo dentro da Civilização Ocidental de forma generalizada e na cultura brasileira de uma forma mais particularizada. Como contraponto tentarei trazer exemplos de outras sociedades, principalmente coletivistas (ou holísticas), isto é, sociedades em que o todo social, o coletivo impõe suas normas, aquelas em que o indivíduo só se enxerga através da coletividade da qual ele faz parte. Geralmente são sociedades tribais, simples (no sentido de sua estrutura econômica).
Neste texto abordarei as questões de sexo e tambèm de gênero e agora o farei com maior esclarecimento do assunto, procurando demonstrar como se elaborou e ainda se processa a definição, a apreensão e o pertencimento de sexo em nossa sociedade: a Ocidental. Porém, antes de falarmos de gênero, vamos primeiro esclarecer alguns conceitos que o embasam: sexo, gênero, identidade, orientação e comportamento sexual.
Sexo (o atributo anatômico-biológico, não o ato) é um conjunto de características anatômico-biológicas que são diferentes em homens e mulheres e que os habilitam para a reprodução. Assim, temos características primárias, que são o aparelho genital conjuntamente com ovários e útero nas mulheres e testículos nos homens e as secundárias, que são as hormonais. Por incrível que pareça, a ideia de sexo como fator diferenciador é recente na história da humanidade, datando do século XVII e XVIII. Este pensamento surgiu a partir das descobertas científicas no campo da medicina por meio dos estudos de anatomia através da dissecação de cadáveres. Assim, o corpo de homens e mulheres começou a “ser construído” até chegar aos dias de hoje mais ou menos como o entendemos hoje. Acontece que, os cientistas lá da Revolução Científica, não exatamente viram nisso novas descobertas. Pelo contrário, seu “olhar científico, neutro e objetivo” vislumbrou aquele corpo com um olhar carregado de uma cultura que colocava homens e mulheres em posições diferentes, reforçando a milenar relação assimétrica de poder entre os sexos.
A forma como um determinado grupo humano entende o sexo faz parte dos códigos e simbologias inscritas em sua cultura, em uma visão coletiva e própria de mundo. E isto se aprende das gerações anteriores. O novo sempre olhamos com um certo olhar do passado. Por isso, por maiores e avançadas que tenham sido as mudanças ocorridas nas últimas décadas, ainda jogamos sobre o outro um olhar carregado de códigos ultrapassados e arcaicos.
Na pré-história, há milhares de anos atrás, (talvez atè hoje isso persista culturalmente falando) o mundo se apresentava para os homens carregado de simbologias que eram acessadas por associações. As diferenças entre homens e mulheres não eram percebidas somente pela sua anatomia. A única diferença inquestionável era a capacidade própria das mulheres de serem depositárias da vida já que o homem era o portador dela através de seu sêmen. Por esta característica, à mulher foram associadas uma série de manifestações simbólicas da natureza, por exemplo, a fertilidade, a umidade, a noite, o frio, as trevas, a obscuridade, o túmulo, a casa, o privado. Como a apreensão do mundo se opera de forma binária e relativa, ou seja, aos pares, comparativamente e por oposição, ao homem foram imputadas características opostas: o seco, o dia, o calor, o céu, a claridade, a rua, o público. Um detalhe importante a ser acrescentando é que, como muitos antropólogos acreditam, a mente humana opere binariamente, ou seja, percebe e constrói conceitos aos pares antagônicos. Assim teríamos masculino/feminino, certo/errado, bem/mal, bonito/feio, em cima/em baixo, seco/úmido, entre tantos. E estes conceitos básicos são indissociáveis, pois só conseguimos pensá-los em referência ao outro. O belo só existe porque temos a ideia do feio em comparação. Essas simbologias eram perpetuadas por nossos ancestrais através de mitologias, que eram estórias explicativas do mundo e que eram revividas e vivificadas por meio de rituais. Assim, com o desenvolvimento das primeiras civilizações, as diferenças foram se acirrando, estabelecendo-se como “definitivas” e sendo naturalizadas, isto é, tomadas como naturais. Por isso é que foi reservado à mulher o espaço da casa, do privado e da família enquanto ao homem cabia o domínio da rua, da política, dos negócios. E em cima destas simbologias foram se operando as divisões sociais entre homens e mulheres e foram se construindo e se constituindo as diferenças de gênero.
Gênero aqui entendido como a manifestação social pròpria das diferenças comportamentais estabelecidas entre homens e mulheres de acordo com a cultura em que estejam inseridos. Diferenças estas que ajudaram a criar o mito da superioridade masculina sobre a mulher fazendo crer que havia uma diferença de grau entre ambos. Portanto, foi se estabelecendo uma relação assimétrica de poder entre homens e mulheres, numa sociedade heteronormativa e androcêntrica. Ou seja, onde as normas eram estabelecidas pelas e para as relações heterossexuais com prevalência de poder e domínio do homem sobre a mulher. Muito provavelmente a raiz do preconceito para com os homossexuais masculinos está na ideia de que estes queriam ser como mulheres, o que para um homem era inadmissível, sendo considerado um rebaixamento, já que nesses tempos a percepção da diferença entre homens e mulheres era de grau, não de natureza, isto é, a mulher era tida como inferior ao homem.
Assim, por consolidar a homens e mulheres uma série de características a ele atribuídas, esperava-se de um e outro sexo/gênero, um comportamento condizente com estas características socialmente pré-estabelecidas. Ou seja, da mulher esperava-se uma certa feminilidade, fragilidade, que fosse cordata e gentil, e do homem esperava-se a masculinidade, a bravura, a coragem, que fosse aguerrido e bravo. E com pequenas variações em suas manifestações estes fenômenos foram perpetuando-se através dos séculos por meio da educação das crianças e da forma como se impunha um comportamento a elas por meio do uso de toda uma simbologia de pertencimento de gênero. Então através de vestimentas, acessórios, adornos, artefatos e brinquedos, cores, todos eles indicativos do sexo ao qual pertencia a criança (ou se acreditava e queria que pertencesse) e com o intuito de reforçar o pertencimento de gênero da mesma em relação ao seu sexo. Isto se acirrou enormemente a partir do século XIX quando a ideia de infância foi aperfeiçoada. Qualquer alteração nessas características era vista com no mínimo desconfiança até a total intolerância, variando conforme o lugar e a época.
E para transformar e mudar essa sèrie de configuraçâo de caracterìsticas è mister que se almeje uma mudança naquilo que esperamos e entendemos como mercado de trabalho para mèdicos, afinal, ainda e somente são os mèdicos os profissionais elencados como avaliadores do comportamento humano, visto o grande poder que a ciência ganhou em nossa sociedade e antes de eles de tornarem profissionais da medicina, eles sâo sim, seres humanos e como tais, propensos a uma sèrie de conceitos e prè-conceitos culturalmente arraigados e estabelecidos a-priori, pois ainda sâo os médicos, e somente eles, os profissionais encarregados de julgar e avaliar o comportamento humano, como se fossem juìzes doutores da lei suprema, quase deuses;

Assim precisiarìamos compreender e entender que o saber da ciência e da medicina não è absoluto e que cabem certas relativizações e não seria o ùnico saber do universo devendo-se aceitar as sabedorias nâo tradicionais, como exemplo cito o saber indigena-americano!

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